sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Nossa, há quanto tempo moro nesse planetinha horrível! Só esta estadia já duram 23 anos! Oh, que horror! A gente devia ganhar extras por tempo de serviço... dá muito trabalho viver por aqui, sabia? É, o ar é horrível, o som ensurdecedor... Benditas sejam as espécies que conseguiram viver aqui até agora, valha-me Rehgza! Sinceramente, elas fazem milagres todos os dias!

Mas a proximidade do fim do mês de outubro me remete sempre ao dia das bruxas. Nunca vou me esquecer todos os dias das bruxas que já passei nesse planeta. Bom, as primeiras vezes que eu vivia não existiam dia das bruxas mas existiam... bruxas! Tá, tudo bem, sempre disseram que elas sabiam fazer coisas do arco da velha, como voar (e daí? Eu também sei!), por fogo nas coisas com o poder da mente (pra que elas usariam o poder da mente pra por fogo nas coisas se a faísca servia bem melhor, obrigada?), enfeitiçar homens (uns... eu acho que isso se chama hipnose ultimamente... ou é golpe do baú? Não sei, depende do dicionário, provavelmente) e outras coisas do tipo. Sinceramente nunca vi nenhuma delas fazendo tal tipo de coisas, provavelmente porque sabiam que havia coisas mais úteis pra fazer que isso... mas muitas delas morreram com isso.

Daí vem algo que não faz sentido pra esse meu cérebro desenvolvido: porque hoje celebram o dia delas se antes as queimavam na fogueira (se eram bruxas não podiam se livrar do fogo?) ou as afogavam (em água ou óleo fervente, ao gosto do freguês)? Ah, deve ser pra pedir desculpas, né? Se bem que acho que elas tão meio mortas pra se importarem com esses pedidos de desculpas.

Mas é divertido ver as pessoas comemorarem o dia das bruxas. Nunca vou me esquecer o meu primeiro, quando ele já tinha se tornado uma festa internacional mundialmente conhecida (desculpe o pleonasmo, mas foi necessário!). É, porque antes a gente tinha que permanecer na Terra sem se envolver com as pessoas e tal, mas depois que nos pegaram e todo o planeta ficou sabendo que estávamos entre os humanos só nos restou mandar a discrição pra cucuia e estar realmente entre eles para melhor estudá-los.

O primeiro dia das Bruxas. Foi realmente inesquecível. Eu estava sozinha em casa, não tinha ninguém para abrir a porta quando algumas crianças com roupas esquisitas tocaram a campainha. Fui atender feliz da vida:

- Doces ou sustos?

Bom, tinha um saco com balas nas mãos delas, então achei que estavam oferecendo! Respondi "Doces!" e fiquei esperando.... e elas ficaram esperando... até que ficou constrangedor pros dois lados e ambos desistimos. Eu não entendi nada, eles ofereceram doces e então não queriam dá-los? Voltei revoltada para meu canto mas nem tive tempo de me sentar quando novas crianças esquisitas voltaram para a porta, com o mesmo discurso esquisito:

- Doces ou Sustos?

Bom, se da última vez eu disse doces e não deu certo, deve ser por que deveria ter dito sustos! E eis que elas se entreolharam e, com cara de poucos amigos, foram embora. Pelo menos foi algo mais rápido dessa vez que da outra. Mesmo assim, não entendi nada e resolvi procurar na Internet algo que pudesse me explicar o que estava acontecendo. Mas antes que eu pudesse encontrar alguma coisa - lembrem-se que isso já faz anos e os computadores liberados para uso alien na Terra eram lentos! - novamente tocou a campainha. Novas crianças vestidas de forma estranha. Antes que pudessem dizer qualquer coisa eu entrei em desespero: era uma pergunta com duas respostas possíveis, eu já tinha dado as duas e não tinha acontecido nada, só mais e mais crianças passando pela minha porta! Frente a um momento de desespero alienigena em terras estranhas, comecei a chacoalhar a criança enquanto perguntava:

- Afinal, o que você quer que eu responda? Diga, diga, o que isso quer dizer? Vocês estão tentando me deixar louca?

Foi então que aconteceu o mais exótico: as crianças que tinham ficado soltas começaram a me empurrar para salvar o cúmplice e saíram correndo, ao invés de me responder. Depois quando a gente coloca no relatório "ações grupais violentas sem explicação" eles reclamam dizendo que não fazem isso, que é intriga nossa! Mas sei que pelo resto do dia todos atravessavam a rua quando passavam pela frente da casa e no dia seguinte fui transferida para evitar transtornos de observação.

Hoje em dia sei que fiz de errado. Quando acabou tudo me explicaram: eu tinha que distribuir (mais) balas pras crianças (como se elas já não tivessem o suficiente!). E o susto quem era pra ter dado era elas, mas acho que ninguém esperava esse tipo de resposta da minha parte. Nessas horas que eu acho que deviam mandar para nós o manual de sobrevivência na Terra... Mas errando a gente também aprende!
(Primeira vez publicado em 30102005)

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